Épocas de transição nos fazem pensar. Pelos menos é isso que acontece comigo. Cerca de 3 anos atrás, época em que concluía meu doutorado em Miami, meus pensamentos estavam voltados aos próximos passos profissionais. Eu também refletia sobre as coisas que gostaria de viver, mas até então nunca foram prioridade para mim. Entre elas, estava a vivência de outras cenas de forró e, principalmente, a participação em festivais.
Desde que comecei a dançar com regularidade, eu já ouvia falar dos famosos festivais de Itaúnas e, a partir do começo dos anos 2010, dos eventos realizados na Europa. Mas eu nunca tinha participado de nada disso. Minha vivência forrozeira se limitava aos forrós de Campinas, minha cidade natal, tanto durante os anos de graduação, quanto nas férias de verão da pós-graduação, quando voltava para casa e podia matar a saudade.
Em termos música, ambiente e parceiras de dança, não posso reclamar, Campinas foi sede de uma das melhores casas de forró dos anos 2000, a Cooperativa Brasil. Por lá passaram grande parte das bandas importantes do gênero na época, desde as mais tradicionais de pé-de-serra, como o Trio Xamego ou Trio Nordestino, até as bandas que ficaram famosas através do movimento de forró universitário, como Falamansa, Circuladô de Fulô ou Rastapé. Minhas experiências 'fora de casa' se limitavam aos forrós de São Paulo, como o Canto da Ema e o Remelexo, alguns poucos forrós no litoral paulista, um forró em Natal e outro Curitiba. Mas festival, mesmo...nunca.
Isso estava pra mudar drasticamente! Mal imaginava eu que logo em breve estaria vivendo experiências muito diferentes, e de um ponto de vista distinto, como professor. Engraçado como as coisas podem mudar. Eu passava da posição de ser puramente um frequentador de festas para a posição de formador de novos forrozeiros, assim como um fomentador da cena em Nova Iorque. Com esta oportunidade de ensinar, vieram convites pra mostrar o estilo de Campinas pra outras plateias, outras geografias. O primeiro deles aconteceu no primeiro grande festival de forró realizado nos Estados Unidos, o Forró Fest USA em Boston (2017). E de lá pra cá, venho participando de vários outros eventos: dei aulas no Boston Brazil Dance Festival 2017 e no NY Forró Fest 2018 - onde também atuei como coordenador pedagógico. Mais recentemente, também em 2018, dei aulas no Forró Fest USA e no Forrobodó NY Festival, que idealizei.
Tanto pessoalmente quanto culturalmente, estes eventos todos foram muito enriquecedores. Foram grandes chances de conhecer, dançar e criar laços de amizade com alguns dos principais dançarinos e professores de forró da atualidade, como o Valmir e a Milena de Belo Horizonte, Juruna de Itaúnas, Camila Alves de Lisboa, Erika Magno de Santos, Anax Caracol de Londres, Evandro Paz de São Paulo, entre muitos outros. Foi também a chance de conhecer muita gente que como eu é apaixonada por esse gênero, gente que é movida a dança e viaja simplesmente pra dançar!
Sinto que essas experiências estão me fazendo reinventar meu estilo de dança. Durante 12 anos de forró eu dancei com um 'sotaque' essencialmente Campineiro, usando um repertório de passos e uma linguagem corporal que hoje percebo ser muito particular da minha cidade. Alguns destes passos parecem até ser uma exclusividade do interior paulista, movimentos que eu não vejo quase ninguém fazer em outros lugares. Hoje percebo que existem muitos outros sotaques cheios de charme por aí, muita coisa que eu quero aprender e poder curtir. Outra coisa que eu gosto nos festivais, é que eu volto a ser aprendiz nas aulas dos meus colegas professores; é minha chance de assimilar um pouco mais dessas outras maneiras tão interessantes de se dançar.
Concluo essa pequena postagem enquanto começo a tirar a poeira da bagagem, me preparando pra próxima viagem e convidando os amigos forrozeiros a participarem deste tipo de celebração artística que é um excelente ambiente para o intercâmbio de conhecimento e astral positivo.
Divido com vocês alguns planos e novidades que tenho para 2019! Estarei dando um workshop em Seattle no dia 7 de abril, workshops em São Francisco nos dias 13 e 14 de abril e aulas nos festival de Montreal nos dias 3, 4 e 5 de maio. Espero vê-los por lá!
Aproveito a oportunidade também para anunciar um projeto novo para esse canal. Quero compartilhar com vocês através de vídeos e blogs um pouco dessas experiências em outras cenas de forró aqui na América do Norte! Convido você a se inscrever aqui e acompanhar essa jornada. Tem bastante coisa boa vindo por aqui, fiquem ligados e participem!
SOBRE O AUTOR - Rafael Piccolotto de Lima é apaixonado pelas artes, doutor em música e foi indicado ao Grammy Latino como melhor compositor de música clássica em 2013. Para ele todas as formas de expressão são de alguma maneira correlacionadas, gerando seu interesse e atuação diversificada; de fraque nas salas de concerto até sandália no chão batido de dança. Nascido em Campinas, São Paulo, hoje ele reside a margem do Rio Hudson com vista para o sul de Manhattan.
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Revisado por Silvia Sampaio de Alencar.